O plástico corre na sua corrente sanguínea
Você sabia que neste momento, tem plástico circulando em seu sangue? Pois é, neste momento mesmo, circula microplástico em suas veias, o que te torna homem de plástico. Brincadeiras a parte, mas o que iremos falar aqui é um assunto sério.
Cientistas holandeses conseguiram realizar uma descoberta pioneira ao detectar fragmentos de plástico no sangue humano pela primeira vez. A equipe examinou amostras de 22 indivíduos, e devido ao tamanho minúsculo das partículas, elas eram invisíveis até mesmo sob um microscópio. Por esse motivo, os pesquisadores precisaram de um dispositivo especializado para transformá-las em gás e, em seguida, um computador foi capaz de identificar a presença de plástico. Os tipos mais comuns encontrados foram aqueles utilizados em garrafas PET, embalagens de alimentos e sacolas plásticas.
Os pesquisadores afirmaram que o plástico está em tudo à nossa volta. No que a gente come, bebe e até no ar. Basta você mesmo olhar ao seu redor, sua TV é de plástico, seu celular é de plástico, o teclado do seu computador é de plástico, você é de plástico. Na comida por exemplo, é encontrado microplásticos em peixes devido a poluição marítima.
“Já estamos inalando e estamos com microplástico dentro do nosso pulmão”, diz Tais Mauad, professora da Faculdade de Medicina da USP.
A cada ano, a quantidade de plástico despejada na natureza é alarmante, chegando a 22 milhões de toneladas em todo o mundo. A pandemia da COVID-19 aumentou ainda mais a produção de lixo plástico devido ao aumento no uso de máscaras e embalagens de delivery. A situação é tão grave que 175 países membros das Nações Unidas recentemente aprovaram uma resolução histórica para combater o uso de plásticos descartáveis. A meta é aprovar, dentro de dois anos, um tratado sem precedentes que aborde essa questão.
Mas o que são microplásticos e como eles chegam ao nosso corpo?
Microplásticos são fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, que se originam da degradação de produtos plásticos maiores, como garrafas, sacolas, embalagens e roupas sintéticas. Eles também podem ser adicionados intencionalmente a alguns produtos, como cosméticos, pastas de dente e esfoliantes.
Os microplásticos são liberados no ambiente por diversas fontes, como o descarte inadequado de resíduos plásticos, o desgaste de pneus e asfalto, as lavagens de roupas sintéticas e os esgotos domésticos e industriais. Eles podem ser transportados pelo vento, pela chuva e pelos rios até chegarem aos oceanos, onde se acumulam em grandes quantidades.
Os microplásticos podem ser ingeridos por animais marinhos, como peixes, crustáceos e moluscos, que os confundem com alimento. Eles também podem se aderir a algas e plâncton, que são a base da cadeia alimentar marinha. Assim, os microplásticos podem se bioacumular nos tecidos dos animais e se biomagnificar ao longo da cadeia alimentar, até chegarem aos humanos que consomem esses animais.
Mas não é só pela alimentação que podemos ingerir microplásticos. Eles também podem estar presentes na água potável, tanto engarrafada quanto da torneira. Além disso, podemos inalar microplásticos presentes no ar, especialmente em ambientes urbanos e industriais. Eles também podem entrar em contato com a nossa pele através de produtos cosméticos que os contêm.
Os efeitos dos microplásticos na saúde humana ainda são pouco conhecidos e precisam ser mais estudados. No entanto, alguns estudos sugerem que eles podem causar inflamação, estresse oxidativo, alterações hormonais, danos ao DNA e até mesmo câncer. Eles também podem interferir na microbiota intestinal e no sistema imunológico. Além disso, eles podem carregar consigo substâncias tóxicas, como metais pesados, pesticidas e aditivos plásticos, que podem se desprender dos microplásticos e causar mais danos ao organismo.
Como podemos reduzir a exposição a esses poluentes?
Algumas dicas são:
- - Diminuir o consumo de plásticos, especialmente os de uso único, e optar por materiais biodegradáveis ou recicláveis.
- - Evitar consumir alimentos armazenados em recipientes de plástico, pois eles podem liberar substâncias tóxicas.
- - Não comer animais marinhos, pois eles podem estar contaminados com microplásticos que ingeriram nos oceanos.
- - Trocar a escova de dentes de plástico por uma de bambu, o absorvente descartável por um de pano ou coletor menstrual, e os tecidos sintéticos por algodão orgânico.
- - Usar filtros de microplásticos na máquina de lavar roupa, como o Guppyfriend ou o Cora Ball, que coletam as microfibras que se soltam das roupas.
- - Reciclar o plástico que for utilizado e descartá-lo corretamente, evitando que ele chegue aos rios e mares.
Seguindo essas medidas simples, podemos contribuir para a preservação do meio ambiente e da nossa saúde, reduzindo o impacto dos microplásticos no planeta. Mas se for mesmo aprovado o banimento de plástico descartáveis, talvez esse cenário mude bastante em breve.
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